Quem Vai Segurar o Céu? (Omama Në Xataka Niyama / Metade Funda, Metade Vinda / Filho da Amazônia) (part. Gabriel Mercury, Ehuana Yaira Yanomami, Davi Kopenawa Yanomami e Jeane Terra)

Responsabilidade coletiva e ancestralidade em "Quem Vai Segurar o Céu?"

"Quem Vai Segurar o Céu? (Omama Në Xataka Niyama / Metade Funda, Metade Vinda / Filho da Amazônia)" de Daniela Mercury destaca a urgência da preservação ambiental a partir da perspectiva Yanomami. O título questiona quem assumirá a responsabilidade diante do risco de colapso ambiental, simbolizado pela metáfora do céu que pode cair. A participação de Davi Kopenawa Yanomami reforça essa ideia ao afirmar: “Se o céu cair, quem irá segurá-lo?”. Essa imagem faz referência à cosmologia Yanomami, em que o céu é sustentado por forças espirituais e humanas, e sua queda representa o fim do mundo.

A canção alterna versos em português e Yanomami, criando um clima de lamento e resistência. Trechos como “Metade finda, metade vinda / Partida / Saudade” expressam a dor da perda e do deslocamento vividos pelos povos indígenas diante da destruição da Amazônia. A frase “A casa é carne / Morrem paredes que choram” mostra que a terra e a moradia são partes do corpo e da alma, e sua destruição causa sofrimento real. Elementos naturais, como “as águas levam, as águas lavam e apagam”, sugerem tanto renovação quanto o risco de apagamento cultural e ambiental.

A crítica social aparece de forma direta: “O povo da mercadoria que mora na cidade / Continua destruindo a nossa terra mãe... rasgando a pele da terra... para poder tirar um pouco minério”. A letra evidencia o conflito entre a busca por lucro e a preservação da vida, alinhando-se ao ativismo de Davi Kopenawa e Ehuana Yaira Yanomami. Ao final, a música reforça a ligação vital entre floresta e povo: “Se não existirem os yanomami, não terá mais floresta”. Assim, a canção se apresenta como um manifesto político e poético, convocando à responsabilidade coletiva pela Amazônia e pelos saberes ancestrais.