E Agora?

Superação e identidade periférica em “E Agora?” de Emicida

A música “E Agora?” de Emicida questiona a expectativa de que artistas da periferia devem sempre cantar sobre sofrimento, mesmo após conquistarem estabilidade. No verso “Agora nóiz têm carro, casa, comida / E vai cantar que não dá pra vencer na vida”, Emicida ironiza a cobrança para que ele permaneça preso a uma narrativa de derrota, como se o sucesso apagasse as dificuldades superadas. O rapper usa a faixa para afirmar sua autenticidade e desafiar a ideia de que estar melhor diminui o valor das histórias de luta, deixando claro que o sucesso não apaga o passado, mas sim o celebra.

A letra também critica a cultura de valorizar comportamentos autodestrutivos, como em “mania de aplaudir suicida”, e incentiva a responsabilidade individual diante dos desafios: “Só xingar o sistema ou resolver o problema”. Emicida propõe uma reflexão sobre amadurecimento e superação, sem perder a conexão com as origens, como destaca o refrão: “Seja como for, lembra de onde veio e vai lá”. Ao dizer “cansei de só os terno serem preto nos lugares chiques”, ele denuncia o racismo estrutural e a exclusão social, ao mesmo tempo em que celebra a conquista de espaços antes negados. O tom direto e motivacional da música reforça a mensagem de que é possível vencer sem negar a própria história, valorizando a autoestima e a coletividade do gueto como forças de transformação.