Chapa

Dor e esperança diante do desaparecimento em “Chapa”

Em “Chapa”, Emicida aborda a dor e a rotina de incerteza vividas por famílias e comunidades afetadas pela violência policial. A repetição da busca pelo "chapa" desaparecido, termo usado para se referir a um amigo próximo, reforça o sentimento de intimidade e pertencimento. Perguntas como “Onde ele foi? Mudou? Morreu? Casou? Tá preso, se internou, é memo? Por quê?” expõem o cotidiano de quem convive com o sumiço de jovens, muitas vezes vítimas de ações policiais. O contexto do clipe, que conta com a participação das Mães de Maio, destaca a realidade de mães que perderam filhos para a violência do Estado.

A letra mostra o impacto coletivo do desaparecimento: a mãe que mantém a esperança de reencontro, a namorada que sonha com o retorno, amigos que sentem o vazio e crianças que perguntam pelo “zica” que animava a rua. A esperança aparece como forma de resistência, mesmo diante da ausência de respostas, como em “Mal posso esperar o dia de ver você voltando pra gente”. O desespero por notícias é retratado na busca por informações em “Face, Google, IML, DP”. A menção a festas populares como São João, reveillon e Cosme e Damião para ilustrar o possível reencontro reforça o desejo de celebração coletiva. A participação das Batucadeiras do Terreiro dos Órgãos traz uma conexão com a ancestralidade africana, ampliando o tema para a luta contra o racismo e a dor da diáspora negra, elementos centrais no álbum. “Chapa” se destaca como um retrato sensível da saudade, da preocupação e da esperança diante da violência e da impunidade.