Crisântemo

Luto e memória familiar em "Crisântemo" de Emicida

Em "Crisântemo", Emicida utiliza a simbologia da flor, tradicionalmente ligada a velórios e à memória dos que partiram, para abordar o luto de forma sensível e direta. A música é marcada pela experiência pessoal do rapper com a morte de seu pai, Miguel, quando ainda era criança. Esse evento deixou marcas profundas em sua infância e na dinâmica familiar, tema que Emicida explora ao longo da canção. A participação de Dona Jacira, mãe do artista, narrando um texto próprio sobre a perda, traz ainda mais autenticidade e emoção, tornando o luto uma experiência compartilhada e coletiva dentro da música.

A letra alterna entre lembranças do pai — “Ele bebeu, bebeu tipo vencedor / E depois riu, riu como o Bira do Jô” — e as consequências da ausência paterna: “Padeceu, desceu, como na seca a flor / E nóiz seguiu, seguiu, juntando o que restou”. Metáforas como “coroa de espinho” e a repetição de “A vida é só um detalhe” reforçam a visão amarga e resignada diante da morte, mostrando que a vida continua, mas marcada por cicatrizes e saudades do que não foi vivido. O relato de Dona Jacira, especialmente ao dizer “Perder o pai já é uma tragédia / Perdê-lo na infância é sentir saudade / Não do que viveu, mas do que poderia ter vivido”, explicita a dor do vazio e da expectativa frustrada, conectando-se diretamente à história do artista.

O videoclipe, gravado na ocupação Mauá, e a mistura de rap com samba melancólico reforçam o sentimento de resistência e pertencimento à comunidade. "Crisântemo" vai além do relato pessoal, tornando-se um retrato sensível das perdas e desafios enfrentados por famílias periféricas, ao mesmo tempo em que celebra a memória e a força para seguir em frente.