Finado Neguim memo? (part. Amaro Freitas)

Sofisticação e identidade em “Finado Neguim memo? (part. Amaro Freitas)”

Em "Finado Neguim memo? (part. Amaro Freitas)", Emicida explora a riqueza da língua portuguesa ao rimar quase exclusivamente com palavras proparoxítonas. Essa escolha não é apenas uma demonstração de habilidade técnica, mas também um desafio às convenções do rap, mostrando como o gênero pode ser sofisticado e criativo sem perder sua ligação com a realidade urbana. Trechos como “Design franco-húngaro / Sniffex búlgaro / Fígaro? Fiz com o fígado” misturam referências culturais e tecnológicas, evidenciando a capacidade do artista de unir diferentes universos em uma mesma narrativa.

A participação de Amaro Freitas traz uma sonoridade jazzística que complementa a complexidade das rimas, criando uma atmosfera refinada, mas ainda acessível. Emicida faz menções a lugares como “Cantareira” e “Mykonos”, objetos do cotidiano como “Bic com B maiúsculo” e “Esferográficas no palco”, além de figuras históricas e artísticas como “Michelangelo” e “Pelé no ângulo”. Esses elementos costuram uma narrativa que transita entre o pessoal e o coletivo. O verso “Rap é tentáculo / No fim só um veículo” revela uma visão madura sobre o rap como meio de expressão e transformação. Já o refrão “Simples assim / Por um gosto pessoal / Finado neguim” pode ser entendido tanto como homenagem a alguém que se foi quanto como reflexão sobre identidade, legado e a efemeridade da vida nas periferias. A música se destaca como um manifesto de técnica, uma celebração da cultura urbana e uma reflexão sobre tempo, memória e pertencimento.