Mufete

Riqueza cultural e ancestralidade em “Mufete” de Emicida

Em “Mufete”, Emicida celebra a cultura angolana ao escolher como título o nome de um prato típico, símbolo de hospitalidade e afeto em Angola e Cabo Verde. O rapper cita bairros como Rangel, Viana, Golfo, Cazenga, Marçal, Sambizanga e Calemba 2, homenageando lugares específicos e destacando a diversidade cultural dessas regiões. Ele reforça que a África é formada por múltiplas identidades e histórias, combatendo a visão simplista de que o continente é homogêneo: “Gente, só é feliz / Quem realmente sabe, que a África não é um país / Esquece o que o livro diz, ele mente”.

A letra traz orgulho das raízes africanas e valoriza a ancestralidade. Emicida afirma que a verdadeira nobreza está na dignidade e resistência do povo, não em títulos: a “nobreza mora em nóiz, não num trono”. Ao mencionar os “duzentos e cinquenta e seis Odus”, ele faz referência à tradição iorubá, mostrando respeito à diversidade religiosa africana e à complexidade da cultura negra, feita de “sombra e luz”. A música também aborda as marcas da colonização e da desigualdade social, como em “Dizem que o diabo veio nos barcos dos europeus / Desde então o povo esqueceu / Que entre os meus, todo mundo era Deus”, apontando para a perda de autoestima causada pelo colonialismo e a necessidade de resgatar o orgulho e a união das diásporas.

A repetição dos nomes dos bairros e a menção à alegria, música e dança (“Cada lugar que eu pisasse daria um samba”) reforçam o tom de celebração e pertencimento. Emicida constrói uma ponte afetiva entre Brasil, Angola e Cabo Verde, promovendo unidade, respeito e valorização das raízes africanas, enquanto denuncia injustiças históricas. A frase final, “A África está nas crianças, e o mundo está por fora”, sintetiza a esperança de renovação e continuidade cultural, colocando a infância como símbolo de futuro e resistência.