White America

Racismo e crítica social em “White America” de Eminem

Em “White America”, Eminem aborda de forma direta o impacto de ser um rapper branco em um cenário dominado historicamente por artistas negros. Ele reconhece que sua cor de pele foi fundamental para seu sucesso comercial, especialmente entre jovens brancos de classe média. Ao afirmar “If I was black, I would've sold half” (Se eu fosse negro, teria vendido metade), Eminem escancara o racismo estrutural da indústria musical e da sociedade americana, mostrando como sua aparência abriu portas para públicos que antes ignoravam o hip-hop. Essa autocrítica é reforçada por entrevistas em que o próprio Eminem admite que parte de sua popularidade se deve ao fato de ser branco, além de mencionar o impacto de sua imagem em “Little Eric looks just like this” (O pequeno Eric se parece exatamente assim), destacando como ele se tornou um espelho para a juventude suburbana.

A música também faz uma crítica direta à hipocrisia da sociedade americana e à censura promovida por figuras como Lynne Cheney e Tipper Gore, citadas explicitamente na letra. Eminem ironiza o papel de “vilão” que lhe foi atribuído, dizendo ser o “Derringer aimed at little Erica to attack her character” (Derringer apontada para a pequena Erica para atacar seu caráter), e denuncia o duplo padrão que só problematiza o hip-hop quando ele chega aos lares brancos: “Surely hip-hop was never a problem in Harlem, only in Boston / After it bothered the fathers of daughters startin' to blossom” (Com certeza o hip-hop nunca foi um problema no Harlem, só em Boston / Depois que incomodou os pais de meninas começando a florescer). O tom provocativo e sarcástico permeia toda a faixa, especialmente ao final, quando Eminem desafia os limites da liberdade de expressão com críticas à democracia americana, chamando-a de “Divided States of Embarrassment” (Estados Divididos da Vergonha). Metáforas como “circus of worthless pawns” (circo de peões inúteis) e a imagem de “piss on the lawns of the White House” (mijar nos jardins da Casa Branca) reforçam a crítica à manipulação midiática e à tentativa de silenciar vozes incômodas, enquanto o refrão destaca a identificação do público branco com sua figura e a responsabilidade social que isso lhe trouxe.