A Mil Anos Luz da Paz

Segregação e exclusão social em “A Mil Anos Luz da Paz”

"A Mil Anos Luz da Paz", do Facção Central, faz uma denúncia direta sobre como a segregação urbana e a exclusão social são usadas para isolar e marginalizar as populações pobres. O grupo evidencia isso no verso: “Fizeram as COHAB pra me tirar do centro. Não combino com os prédios, com os monumentos”, mostrando que a criação de conjuntos habitacionais distantes não é apenas uma solução para moradia, mas uma estratégia para separar classes sociais e reforçar o abismo entre ricos e pobres.

A música também critica a hipocrisia das classes mais altas, que buscam segurança em “cercas elétricas” e ignoram as causas reais da violência. O refrão destaca essa contradição: “Se conforma com a paz atrás da cerca elétrica. Se pôr o pé pra fora, 'plá plá!' já era”, em que “plá plá” representa o som dos tiros e a constante ameaça de morte nas periferias. Além disso, a letra aborda a falta de oportunidades e a exploração econômica, mostrando que, para muitos jovens das favelas, o crime aparece como única alternativa de ascensão social: “Me traz a balança de precisão / Só traficando vou comer ravióli de faisão”. O Facção Central usa ironia para escancarar o contraste entre a ostentação dos ricos e a miséria dos pobres, como em “Morte pra puta ostentando na Caras sua gargantilha / Seu sorriso clareado a laser pelo dentista”. A música ainda critica o acesso restrito à educação e ao mercado de trabalho: “Ter faculdade pública é ser ex-presidiário / É só pros do Mackenzie que a multi dá estágio”. Ao longo da faixa, a indignação e a revolta são evidentes, reforçando a ideia de que a paz está distante – “a mil anos luz” – para quem vive à margem, e que a violência é consequência direta de um sistema desigual.