Alcatraz

Contrastes sociais e prisões invisíveis em “Alcatraz”

A música “Alcatraz”, do Facção Central, utiliza a famosa prisão americana como metáfora para mostrar que tanto a riqueza quanto a pobreza podem ser formas de aprisionamento. O grupo apresenta dois tipos de "Alcatraz": a "de ouro", que representa o confinamento do jovem rico, cercado por muros, seguranças e relações familiares frias; e a "de compensado", que simboliza a favela, marcada pela violência, carências e humilhações diárias. O contexto do álbum reforça essa ideia ao comparar a realidade das periferias a campos de extermínio, mostrando como a sociedade brasileira cria diferentes tipos de cárcere de acordo com a classe social.

A letra alterna as perspectivas de um garoto rico e de um garoto pobre, ambos insatisfeitos e sonhando com liberdade. O jovem do condomínio, apesar do conforto, sente-se solitário e vigiado, “igual um hamster correndo na gaiola”, enquanto o da favela enfrenta privações extremas, violência policial e discriminação, desejando apenas o básico, como “um copo de leite” ou “um tênis sem Silver-tape”. A repetida menção à “carta de alforria” faz referência à libertação dos escravizados, usada aqui para expressar o desejo de romper com as amarras sociais impostas pelo nascimento. O contraste entre “ouro” e “compensado” evidencia as diferenças de realidade, mas também mostra que, em ambos os lados, há sofrimento e falta de liberdade verdadeira.

A crítica social é clara: a música denuncia a indiferença dos ricos diante da miséria (“Pra eles foda-se o que o pobre tá comendo, bebendo”), a hipocrisia e o racismo estrutural, além de mostrar como o sistema transforma todos em reféns de suas circunstâncias. Ao usar a metáfora da prisão para ambos os lados, “Alcatraz” revela que, no Brasil, a desigualdade social aprisiona tanto quem tem tudo quanto quem não tem nada, cada um à sua maneira.