Livro de Auto Ajuda

Crítica social e ironia em “Livro de Auto Ajuda” do Facção Central

Em “Livro de Auto Ajuda”, o Facção Central utiliza o título de forma irônica para criticar a superficialidade das soluções propostas por livros motivacionais diante da dura realidade das periferias. A música rejeita conselhos simplistas e expõe, com imagens fortes e referências históricas, como a sobrevivência nas comunidades é marcada por violência, racismo estrutural e exclusão social. Trechos como “tive orelha cortada / No rosto um F feito em brasa por fugir da senzala” conectam o sofrimento atual à herança da escravidão, mostrando que os problemas enfrentados hoje têm raízes profundas na história do Brasil. O grupo se apresenta como um “livro de auto ajuda” realista, que não ensina a “dar flor a quem te ataca de bazuca”, deixando claro que otimismo vazio não resolve desigualdades.

A letra também faz uma crítica direta à indústria musical, denunciando a falta de criatividade e de preocupação social em gêneros populares: “AM, FM é enxurrada de groselha / Axé, sertanejo, pagode mela cueca / Letras sem criatividade, preocupação social”. O Facção Central se posiciona como uma voz incômoda, que não busca aprovação geral, como reforça o refrão: “FC não é unanimidade, unanimidade é burra / Pros cuzão apologia pra favela auto ajuda”. A música ainda aborda o ciclo de violência, repressão policial e falta de oportunidades, citando exemplos como “Só ter futuro catando a Frontier da colunista / Pra fazer treta em pó na Bolívia” e “Pra pobre é terno de tergal, véu, extrema-unção / Cartaz com a nossa foto em forma de caixão”. Ao mencionar figuras como Hendrix, Maradona e Garrincha, alerta sobre os riscos do álcool e das drogas, sem moralismo, apenas reconhecendo a complexidade da vida na favela. O uso de metáforas intensifica a denúncia social, tornando a música um retrato cru e honesto da marginalização, em contraste com as promessas ilusórias dos livros de autoajuda tradicionais.