A Pomba Branca Tem Dois Tiros No Peito

Violência e exclusão social em “A Pomba Branca Tem Dois Tiros No Peito”

Em “A Pomba Branca Tem Dois Tiros No Peito”, o Facção Central utiliza a imagem da pomba branca, tradicional símbolo da paz, para mostrar como a violência e a insegurança se tornaram parte do cotidiano nas periferias brasileiras. O refrão “Hoje Deus anda de blindado, cercado e protegido por dez anjos armados” reforça a ideia de que a situação chegou a um ponto em que nem mesmo a divindade estaria a salvo, evidenciando o sentimento de desamparo vivido por quem mora nessas comunidades. A capa do álbum, que também traz essa metáfora, ilustra visualmente a morte da paz e a banalização da violência nesses ambientes.

A letra faz críticas diretas às desigualdades sociais, à indiferença das classes privilegiadas e à hipocrisia do sistema judicial e policial. Trechos como “O ladrão de seis galinhas tá no presídio / O banqueiro tá livre porque tem endereço fixo” e “A indiferença que não te deixa pôr a mão no bolso / É a mesma do louco que corta seu rosto” apontam para a seletividade da justiça e para a falta de empatia dos mais ricos, que preferem investir em segurança privada a contribuir para a redução da desigualdade. A música também denuncia a corrupção e a impunidade, mostrando como políticos e empresários escapam das consequências de seus crimes, enquanto a repressão recai sobre os mais pobres. Ao longo da faixa, o Facção Central constrói uma narrativa de revolta e denúncia, mostrando que a violência é tanto resultado quanto resposta à exclusão social, e que a paz, representada pela pomba branca, está gravemente ferida nas periferias do Brasil.