Art poétique

A musicalidade e o simbolismo em "Art poétique" de Léo Ferré

Em "Art poétique", Léo Ferré interpreta o poema de Paul Verlaine destacando a importância da musicalidade e da leveza na poesia. O verso “De la musique avant toute chose” (“Música antes de tudo”) resume a defesa de Verlaine por uma poesia que valoriza o som, o ritmo e a sugestão, rejeitando o excesso de regras e a rigidez formal. Ferré, ao musicar o texto, reforça essa proposta, tornando a poesia mais sensorial e acessível, em sintonia com sua homenagem aos poetas simbolistas.

A letra valoriza a imprecisão e a ambiguidade, como em “Rien de plus cher que la chanson grise / Où l’Indécis au Précis se joint” (“Nada mais caro que a canção cinzenta / Onde o Indefinido se une ao Definido”), mostrando que a beleza está na fusão entre o vago e o claro. Imagens como “beaux yeux derrière des voiles” (“belos olhos atrás de véus”) e “bleu fouillis des claires étoiles” (“confusão azul das estrelas claras”) reforçam a ideia de que o mistério e a sugestão são mais poderosos do que a exposição direta. O poema também critica a eloquência forçada e a rima excessiva, comparando-a a um “bijou d’un sou / Qui sonne creux et faux sous la lime” (“joia barata / que soa oca e falsa sob a lima”), ou seja, algo superficial e sem valor real.

A frase final, “Et tout le reste est littérature” (“E todo o resto é literatura”), sintetiza a visão de Verlaine e de Ferré: o essencial é a emoção transmitida pela musicalidade e pela nuance; o restante, por mais elaborado que seja, é apenas ornamento. Assim, Ferré reafirma seu compromisso com uma poesia viva, livre e sensível, alinhando-se ao simbolismo de Verlaine e à sua própria crítica à poesia convencional.