Deuses Ateus (part. Djonga e Delacruz)

Autonomia e resistência em "Deuses Ateus (part. Djonga e Delacruz)"

"Deuses Ateus (part. Djonga e Delacruz)", de Filipe Ret, Djonga e Delacruz, desafia o conceito tradicional de divindade ao propor que cada um pode ser o criador dos próprios valores e propósitos. Ao se autodenominarem "deuses ateus", os artistas rejeitam a necessidade de validação externa, seja religiosa ou social, e afirmam sua autonomia diante de estruturas opressoras. O título e o refrão funcionam como um manifesto, questionando quem tem o direito de definir respeito, poder ou fé, especialmente em um contexto de marginalização por raça, classe e identidade.

Cada artista traz uma perspectiva própria, mas todos convergem na ideia de resistência. Filipe Ret destaca a importância da memória coletiva e da conquista do respeito, criticando a hipocrisia das instituições religiosas ao dizer: "Salvem os fiéis, mas queimem essas igrejas com os pastores dentro" – uma crítica direta ao abuso de poder. Djonga enfatiza o empoderamento das mulheres negras e denuncia o racismo sistêmico, afirmando que prosperar não é pecado e que a luta é por sobrevivência e dignidade. Delacruz encerra refletindo sobre o cansaço causado pela violência racial, usando a expressão "azul caneta" para se referir à polícia e ao racismo institucional, e expressa esperança ao desejar que seu filho, um "Deus ateu", questione e construa sua própria identidade.

Assim, a música é um chamado à resistência, autovalorização e construção de novos caminhos, fora das amarras impostas por religiões, sistemas de poder e preconceitos. Ao se declararem "deuses ateus", os artistas reivindicam o direito de serem protagonistas de suas próprias histórias, celebrando força, memória e luta coletiva.