Gonê

Identidade e resistência urbana em “Gonê” de Filipe Ret

Em “Gonê”, Filipe Ret utiliza o "Gualin do TTK", um dialeto criado no Catete durante a ditadura militar, como elemento central da música. Ao compor toda a faixa nesse código, Ret presta homenagem ao seu bairro e resgata uma linguagem que nasceu como forma de resistência à repressão. Essa escolha reforça a ideia de uma comunidade fechada, onde apenas quem faz parte entende as mensagens, criando um forte senso de identidade e pertencimento. O próprio artista já comentou que o uso desse dialeto com sua equipe serve para manter a privacidade em ambientes hostis, mostrando como a linguagem é também uma ferramenta de proteção e união.

Mesmo para quem não domina o dialeto, o refrão repetido “Davi que guese, gonê” (“vida que segue, gone”) transmite claramente a mensagem de superação e continuidade, temas recorrentes nas narrativas urbanas. A letra, repleta de gírias e expressões invertidas, aborda desafios, perdas e a necessidade de seguir em frente, refletindo a realidade das periferias cariocas. Ao mencionar fé, amizade e lealdade, Ret destaca valores fundamentais para quem vive em contextos de vulnerabilidade. A estrutura descontraída e cheia de códigos internos aproxima a música do cotidiano do Catete, tornando “Gonê” um retrato autêntico da cultura local e da criatividade diante da opressão.