Damn

Da perda ao autoamor em “Damn”, de Fujii Kaze, virada

“Damn”, de Fujii Kaze, desloca o foco de “あなた” (você) para “私” (eu): de “だんだん遠くなったあなたへ” (para você que foi ficando aos poucos distante) a “だんだん近くなった私へ” (para mim, que fui me aproximando aos poucos). O “だんだん” costura a passagem do apego confuso ao cuidado de si, enquanto a mistura de registro — coloquial do Kansai (~やん), o inglês direto “Damn damn don’t give a damn” (droga, droga, não dou a mínima) e autoordens — vai organizando o caos. No início, ele se espanta: “まさかこんなに惚れて舞うとは” (nunca pensei que cairia tão de amores assim) e assume culpa: “全部全部俺のせい” (tudo é culpa minha). O refrão concentra desejo, ressentimento e perda de controle: “どうすればいい / ああ幸せってどんなだっけな / 覚えてないや” (o que eu faço? / ah, como era a felicidade? / já nem me lembro). O pep talk ríspido — “どけ、そこどけ… やめ、それやめ… ダメ、もうダメ…” (sai daí… para com isso… não dá, já não dá…) — leva à aceitação: “完璧とか無理やん、鼻から” (perfeição é impossível desde o começo).

Surge também o jogo visual de “だんだん赤くなった青さへ” (à imaturidade que foi ficando vermelha aos poucos): o “azul” da imaturidade cora de vergonha e amadurece com a perda. Na ponte, ele fraqueja — “すべて流すつもりだったのにどうした” (eu pretendia deixar tudo ir, o que houve?) — mas reacerta a rota: “全部まだまだこれからだから / いつかあんたに辿り着くから” (tudo ainda está por vir / um dia vou chegar até você). O luto dá lugar a um fio de futuro. O inglês abre um respiro prático e prepara o fecho: “I love me, and I / Will keep him in a / Safest, fairest, happiest place baby” (eu me amo e / vou mantê-lo no / lugar mais seguro, justo e feliz, baby). “Him” pode ser o próprio lado vulnerável que ele promete proteger, ou o amado idealizado guardado na memória. Em ambas leituras, o movimento é o mesmo: sair da fixação no outro e escolher um cuidado ativo consigo. A mistura de idiomas e repetições acompanha essa travessia.