London, London

Solidão e exílio em “London, London” de Gal Costa

A música “London, London”, interpretada por Gal Costa e escrita por Caetano Veloso durante seu exílio em Londres, reflete de forma sensível o sentimento de deslocamento vivido pelo artista ao fugir da repressão da ditadura militar brasileira. O verso “I'm lonely in London, London is lovely so” (“Estou sozinho em Londres, Londres é tão bonita”) destaca o contraste entre a beleza da cidade e a solidão inevitável do exílio. Já o trecho “I cross the streets without fear / Everybody keeps the way clear / I know no one here to say hello” (“Eu atravesso as ruas sem medo / Todo mundo deixa o caminho livre / Não conheço ninguém aqui para dizer oi”) evidencia tanto a civilidade do ambiente londrino quanto a ausência de laços afetivos, reforçando o isolamento do artista em meio à multidão.

A repetição de “While my eyes go looking for flying saucers in the sky” (“Enquanto meus olhos procuram discos voadores no céu”) sugere uma busca por algo extraordinário ou uma fuga da realidade, simbolizando a esperança de encontrar novidade ou manter a imaginação viva diante da rotina fria da cidade estrangeira. O tom resignado de versos como “I do not want to make a mess / And I know about nothing that possess / I came around to say yes, and I say” (“Não quero causar confusão / E não conheço nada do que possuo / Vim para dizer sim, e eu digo”) mostra a tentativa de adaptação e aceitação passiva da situação, sem perder a própria identidade.

O contexto do exílio e a posterior dedicação da música a Jean Charles de Menezes, brasileiro morto pela polícia britânica, ampliam o significado de “London, London”. A canção se torna um retrato sensível da experiência do imigrante, abordando a solidão, a busca por pertencimento e a reflexão sobre a distância emocional mesmo em sociedades organizadas e seguras.