The Carpet Crawlers

“The Carpet Crawlers”: labirinto, fé e transformação

O mantra “We’ve got to get in to get out” (temos que entrar para sair) resume o paradoxo central de The Carpet Crawlers: a saída só acontece atravessando o labirinto. No enredo de The Lamb Lies Down on Broadway (1974), Peter Gabriel coloca Rael num rito de passagem coletivo. O corredor vermelho, a multidão rastejando rumo à porta pesada, o tapete quente de lã e a salamandra que se consome nas chamas formam um quadro onírico de iniciação. As “criaturas imaginárias” presas em celuloide e as pulgas que se agarram à “golden fleece” (Velocino de Ouro) evocam memória filmada e busca de riqueza/prestígio por carona no brilho alheio. Quando surge a imagem do “needle’s eye” (olho da agulha) se fechando sobre os pobres, entra a camada bíblica e social: a passagem é seletiva e exige renúncia, não mero voluntarismo.

A massa olha para cima como plantas disputando luz, crendo-se livre enquanto é puxada por um ímã — desejo e condicionamento. As figuras “mild-mannered supermen” (super-homens comportados) contidos por kriptonita e a referência às virgens prudentes e tolas combinam cultura pop e parábola para falar de potência neutralizada e preparo espiritual. A festa da colheita ao pé da escada em espiral prepara o salto para Chamber of 32 Doors, onde o excesso de escolhas será o próximo teste. O manequim de porcelana com pele rachada, cântaros erguidos “carregando o que lhes falta” e o líquido coagulado apontam fragilidade e estagnação; o “tickler” (provocador) com seu “stickleback” (espinhoso) sugere prazer e dor entrelaçados. No todo, os carpet crawlers são buscadores divididos entre conformismo e transcendência. Não por acaso, o Genesis revisitou a faixa em The Carpet Crawlers 1999 com a formação clássica, reafirmando a força desse chamado paradoxal.