Coconut

Humor hipnótico e o loop de um acorde em “Coconut”

“Coconut”, de Harry Nilsson, vai além da rima grudenta: a canção fica presa a um único acorde C7 do começo ao fim, criando um loop hipnótico que espelha a piada central. Depois que a mistura causa dor, o médico manda tomar a mesma coisa e “call me in the morning” (me ligue de manhã), ironizando remédios caseiros e a consulta relâmpago no meio da noite. A história é direta: o irmão compra um coco, a irmã tem o limão, ela “put the lime in the coconut, you drink ’em both up” (coloque o limão no coco, você toma os dois de uma vez) e, ao beber, sente dor de barriga e liga para o médico. O diálogo vira um esquete musical, com refrãos repetidos e apartes do médico, como “Now let me get this straight...” (Agora, deixa eu ver se entendi...), até a resposta irônica: “then you feel better... and call me in the morning” (aí você vai se sentir melhor... e me ligue de manhã). O minimalismo harmônico e a repetição funcionam como um mantra cômico que acentua o absurdo e gruda na cabeça.

Por trás do humor, a mistura pode soar como metáfora de combinações impulsivas que dão errado — ou como piada de ressaca, já que limão e coco lembram drinques e a recomendação de repetir a dose ecoa o “hair of the dog” (curar a ressaca bebendo mais). O “you’re such a silly woman” (você é uma mulher tão boba) reforça a comédia de costumes, zombando de curas milagrosas e do jargão automático do médico. A canção vira jogral: a paciente insiste “Doctor, ain’t there nothin’ I can take?” (Doutor, não tem nada que eu possa tomar?), ele devolve o mesmo refrão, e a história gira no mesmo ponto que a harmonia única. Esse efeito ajudou “Coconut” a ganhar vida própria na cultura pop, dos créditos finais de Cães de Aluguel a Tempestade de Gelo, como respiro irônico após narrativas pesadas.