Bruca Maniguá

Resistência e identidade afro-cubana em “Bruca Maniguá”

Em “Bruca Maniguá”, Ibrahim Ferrer utiliza o "espanhol bozal" — uma forma de espanhol marcada pela influência das línguas africanas — como uma escolha consciente de afirmação identitária e resistência cultural. Essa opção linguística remete diretamente à experiência dos africanos escravizados em Cuba, tornando a canção um símbolo de memória e luta. O verso “Yo son carabalí, negro de nación. Sin la liberttad no pue'o vivi'” (“Eu sou carabalí, negro de nação. Sem liberdade não posso viver”) destaca o orgulho das origens étnicas, citando grupos como carabalí, mandinga e congo, e coloca o desejo de liberdade no centro da narrativa, um tema fundamental para os descendentes de africanos na diáspora cubana.

A letra também faz referência ao sofrimento causado pelos “mundele” (palavra de origem africana para designar brancos ou estrangeiros), reforçando a crítica ao sistema escravista e ao racismo. A canção alterna entre lamentos e refrões de exaltação, como “Yenyere Bruca Maniguá”, que funcionam como gritos de resistência e celebração da herança cultural. Trechos como “tanto maltráta, cuerpo ta'furi eh” (“tanto maltrata, o corpo está ferido”) expressam o sofrimento físico e emocional, enquanto a repetição de “quiero mi libertad” (“quero minha liberdade”) reafirma a esperança e a luta. O uso de expressões em línguas africanas e espanhol crioulizado reforça a ideia de que, mesmo diante da opressão, a cultura ancestral permanece viva. Assim, “Bruca Maniguá” se consolida como um hino à identidade afro-cubana, à resistência e à busca pela liberdade.