Cultura Lira Paulistana

Crítica à censura e à indústria em “Cultura Lira Paulistana”

Em “Cultura Lira Paulistana”, Itamar Assumpção faz uma crítica direta e irônica à persistência da censura e do descaso com a cultura brasileira após o fim da ditadura militar. Ele aponta que, mesmo com o regime encerrado oficialmente, os mecanismos de controle e empobrecimento cultural continuaram, agora de forma mais sutil e infiltrada no meio artístico. Ao dizer “a ditadura pulou fora da política / foi grudar bem na cultura”, Itamar denuncia que o autoritarismo migrou para o campo das artes, tornando-se uma presença difícil de eliminar, como sugerem as palavras “craca” e “crica”.

A letra destaca nomes importantes da música brasileira, como Ataulfo Alves, Tropicália, Monsueto, Dona Ivone Lara, Pixinguinha, Elizeth Cardoso, Macalé e Zé Kéti, para mostrar o contraste entre a riqueza cultural do passado e o que ele chama de “tiririca pura” e “porcaria na cultura”. Essas expressões, usadas com ironia, criticam a substituição de referências sofisticadas por manifestações consideradas de menor valor, resultado tanto da censura quanto da massificação promovida pela indústria cultural. Trechos como “Cultura não é uma tchurma / Cultura não é tcha tchura / Cultura não é frescura” ironizam a superficialidade da cultura de massa, enquanto “Cultura sabe que existe miséria existe fartura e partitura” ressalta a complexidade e a resistência da cultura brasileira. Ao citar o Teatro Lira Paulistana, símbolo da Vanguarda Paulista, Itamar reforça o lamento pela perda de espaços autênticos. O apelo “Socorro Elis Regina” e a repetição de “porcaria na cultura tanto bate até que fura” expressam o desejo por uma cultura mais rica e menos controlada, tornando a música um manifesto contra a degradação cultural e a censura velada.