Prezadíssimos Ouvintes

Ironia e crítica à mídia em "Prezadíssimos Ouvintes"

Em "Prezadíssimos Ouvintes", Itamar Assumpção usa a ironia para questionar a ideia de inovação na indústria cultural. Logo no início, ele afirma: “o novo não me choca mais” e “nada de novo sob o sol”, desmontando a noção de que sempre há algo realmente inédito sendo apresentado ao público. O verso “o que existe é o mesmo ovo de sempre / chocando o mesmo novo” reforça essa crítica, mostrando que o que é vendido como novidade na mídia é, na verdade, uma repetição de fórmulas já conhecidas. Essa postura cética reflete a insatisfação de Itamar com a dificuldade dos artistas independentes em conquistar espaço nos grandes meios de comunicação.

A letra detalha os obstáculos enfrentados por quem está fora do circuito comercial, usando imagens como “ficar na fila”, “aguentar tranco na esquina” e “lotação” para ilustrar a luta diária e a exclusão dos artistas que não se encaixam nos padrões da grande mídia. Ao citar experiências como “cantei num galinheiro”, “cantei numa procissão” e “cantei ponto de terreiro”, Itamar valoriza o contato direto com o público e a autenticidade dessas vivências, em contraste com o desejo de “cantar na televisão”, símbolo do reconhecimento e do alcance massivo. O tom descontraído da canção é atravessado por uma crítica à dependência das tecnologias e à incerteza do sucesso mediado por elas, como nos versos “quem é que me garante / que mesmo esses microfones / sempre funcionarão?”. Assim, a música mistura humor, ironia e denúncia para expor as contradições do universo artístico e midiático brasileiro dos anos 1980.