Verdade Duvidosa

Ambiguidade e autoengano em "Verdade Duvidosa" de Ivan Lins

"Verdade Duvidosa", de Ivan Lins, aborda a tensão entre o que se diz e o que realmente se sente, destacando a hipocrisia e a ambiguidade nos relacionamentos. No verso “Deus vê tudo e tudo sabe / Mas não sabe calcular / A hipocrisia que cabe / Dentro deste teu olhar”, o compositor sugere que nem mesmo uma entidade onisciente conseguiria medir a profundidade da dissimulação humana, especialmente quando ela aparece em gestos e olhares. Ao longo da música, a personagem reconhece tanto o próprio ciúme quanto a incapacidade do outro de enxergar as mentiras do cotidiano, criando um clima de dúvida sobre a autenticidade das emoções trocadas.

Embora a letra não trate diretamente de questões sociais ou políticas, o histórico de engajamento de Ivan Lins permite interpretar a crítica à hipocrisia como algo que vai além do âmbito pessoal, podendo ser lida também como um comentário sobre a sociedade. O trecho “Eu te fito humildemente / Mas meus lábios te censuram / Porque teu olhar desmente / O que os teus lábios juram” evidencia o conflito entre aparência e realidade, tema comum em situações de opressão ou manipulação. No final, com “Eu por ti sou enganada / Por gostar de me enganar / Por querer ser contemplada / Pelo teu fingido olhar”, a música revela uma autocrítica e uma aceitação do autoengano, mostrando que, muitas vezes, preferimos acreditar em ilusões que nos confortam, mesmo sabendo que não são verdade.