Cartomante

Repressão e esperança velada em "Cartomante" de Ivan Lins

Em "Cartomante", Ivan Lins retrata de forma sutil o clima de medo e autocensura vivido durante a ditadura militar no Brasil. O trecho “não ande nos bares, esqueça os amigos / não pare nas praças, não corra perigo” mostra como a convivência social e até pequenos gestos eram vistos como ameaças, obrigando as pessoas a adotarem uma postura discreta para garantir a própria segurança. A orientação para evitar riscos e manter silêncio reflete a necessidade de sobrevivência em um período de forte repressão, onde expressar opiniões ou sentimentos podia trazer graves consequências.

A figura da cartomante e a ideia de destino – “já está escrito, já está previsto / por todas as videntes, pelas cartomantes” – reforçam a sensação de impotência diante de um futuro que parece inevitável, como se tudo já estivesse determinado pelas circunstâncias políticas. No entanto, o trecho “cai o rei de Espadas / cai o rei de Ouros / cai o rei de Paus / cai, não fica nada” utiliza a simbologia das cartas de baralho para sugerir a queda dos poderosos, indicando uma esperança silenciosa de que o regime autoritário e seus líderes um dia cairão. Assim, a música equilibra alerta e resignação, transmitindo tanto a angústia do momento quanto a expectativa de mudança.