Assanhado

Liberdade criativa e improviso em "Assanhado" de Jacob do Bandolim

"Assanhado", de Jacob do Bandolim, destaca-se por traduzir em letra e ritmo a liberdade criativa e a ousadia que marcam tanto a execução instrumental quanto a atitude de quem interpreta. O termo "assanhado" vai além do sentido de alguém animado ou atrevido, sugerindo também um espírito inquieto, inventivo e brincalhão, características centrais do choro-samba criado por Jacob. Quando a letra menciona “tô como um cavaquinho e um bandolim”, faz uma ligação direta com a tradição do choro, onde esses instrumentos são protagonistas, e reforça a ideia de que cantar e tocar são atos de entrega e improviso, como em um "duelo de bambas".

Lançada em 1961, a música é reconhecida por sua complexidade técnica e valoriza a mistura de instrumentos típicos do samba e do choro, como “sete-cordas, o bumbo e o tamborim”, além do pandeiro, que “é pra incrementar o regional brasileiro”. Essa celebração dos instrumentos e da roda de samba evidencia a atmosfera de coletividade e espontaneidade, onde a improvisação é fundamental: “Improvisando nesse samba-choro / Vou aprendendo assim a envolver / A me esquecer, a me soltar”. A influência do bebop do jazz aparece na liberdade de criar e brincar com as melodias, como em “Vou inventando notas, melodias / Como um assanhado bandolim / Desafinando um danadinho cavaquinho”, mostrando que o "desafinar" faz parte do prazer de experimentar.

No fim, "Assanhado" é um convite ao desprendimento e à alegria de se expressar sem amarras, misturando tradição e inovação. O clima leve e contagiante da letra, com repetições como “E vou assim, cantando assim / E vivo assim / Cantando assim / Soltinho assim / Dengoso assim”, reforça que a essência do samba-choro está na liberdade de brincar, misturar e se deixar levar pelo ritmo, tornando cada apresentação única e cheia de personalidade.