Les Vieux

A solidão e o tempo em “Les Vieux” de Jacques Brel

Em “Les Vieux”, Jacques Brel utiliza a imagem do relógio de prata que “ronronne au salon” (“ronrona no salão”) como símbolo central da passagem do tempo e da proximidade da morte. O relógio não apenas marca as horas, mas parece observar e aguardar silenciosamente os idosos, tornando o tempo um personagem ativo e inevitável em suas vidas. Brel reforça essa sensação ao escolher um ritmo musical lento e versos longos, que acentuam a monotonia e a estagnação da velhice. Isso fica claro na descrição das rotinas repetitivas e dos espaços cada vez mais restritos: “Du lit à la fenêtre / Puis du lit au fauteuil et puis / Du lit au lit” (“Da cama à janela / Depois da cama à poltrona e então / Da cama à cama”).

A música aborda a perda de vitalidade e de sonhos, evidenciada em imagens como “leurs livres s’ensommeillent / Leurs pianos sont fermés” (“seus livros adormecem / seus pianos estão fechados”) e na ausência de alegria até nos pequenos prazeres, como o muscat do domingo que “ne les fait plus chanter” (“não os faz mais cantar”). O cheiro de tomilho e lavanda, junto com a menção ao “verbe d’antan” (“palavra de antigamente”), sugere apego ao passado e à tradição, mas também uma atmosfera de resignação. O trecho “Ils se tiennent à la main / Ils ont peur de se perdre / Et se perdent pourtant” (“Eles se dão as mãos / Têm medo de se perder / E se perdem mesmo assim”) revela a fragilidade dos laços humanos diante da morte. No final, ao afirmar que o relógio “nous attend” (“nos espera”), Brel amplia o sentimento de que todos compartilham esse destino, convidando à reflexão sobre a finitude e o ciclo da vida.