Vesoul

A inquietação cômica e irônica em “Vesoul” de Jacques Brel

Em “Vesoul”, Jacques Brel utiliza a repetição de viagens e mudanças de destino para ilustrar, de forma bem-humorada e irônica, a insatisfação constante e a busca incessante por novidades que nunca trazem satisfação real. O personagem da música é levado de cidade em cidade por desejos que não são seus, como no verso “T'as voulu voir Vierzon, et on a vu Vierzon” (Você quis ver Vierzon, e nós vimos Vierzon), mostrando o absurdo dessa procura: ao chegar a cada lugar, o interesse logo desaparece e surge a vontade de partir para o próximo, criando um ciclo interminável de inquietação.

O contexto histórico reforça esse tom satírico. Brel realmente prometeu escrever sobre Vesoul após uma breve passagem pela cidade, e transformou essa promessa em uma crítica divertida ao desejo humano de sempre buscar algo novo sem nunca se contentar. A letra brinca com trocadilhos e situações absurdas, como confundir pessoas e lugares (“Maintenant j'confonds ta sœur et le Mont Valérien” / Agora confundo sua irmã e o Mont Valérien) e misturar referências culturais e geográficas (“J'ai voulu voir Byzance, et on a vu Pigalle” / Eu quis ver Bizâncio, e vimos Pigalle). O verso “J'ai horreur de tous les flonflons, de la valse musette et de l'accordéon” (Tenho horror de todos os flonflons, da valsa musette e do acordeão) é especialmente irônico, já que a música é conduzida pelo acordeão de Marcel Azzola, a quem Brel incentiva com o famoso “Chauffe, Marcel!”. Assim, a canção faz graça tanto com a inquietação dos personagens quanto com os clichês da música francesa, criando um clima leve, divertido e autodepreciativo, típico do estilo de Brel.