Outra Lisboa

Memórias e saudade em “Outra Lisboa”, de João Braga

Em “Outra Lisboa”, João Braga faz um retrato afetivo de uma cidade marcada pela boemia e pela riqueza cultural, hoje preservada principalmente na memória. Ao citar lugares emblemáticos como Belcanto, Tavares e Gambrinus, o artista evoca uma Lisboa de encontros, conversas e tradições, que já não existe da mesma forma. Essas referências não são apenas pontos geográficos, mas símbolos de uma vida social intensa e de uma época em que a convivência era central para a identidade lisboeta.

A saudade é o sentimento dominante na canção, intensificada pelas menções a figuras históricas do fado, como Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro. Eles representam uma era de ouro da música e da vida cultural da cidade, reforçando a importância dos encontros e das experiências compartilhadas. Trechos como “meio wisky com amigos no Belcanto” e “um cházinho bem tomado na Marques ou na Bernard” mostram hábitos cotidianos que fortaleciam os laços entre as pessoas. O refrão “Vem-me a saudade daquela outra Lisboa / E de tanta gente boa que então eu conheci” deixa claro que a cidade idealizada por Braga está profundamente ligada às pessoas e aos momentos vividos. No final, a música encara o passar do tempo com aceitação, sugerindo que, mesmo com a idade, a memória e o afeto mantêm viva essa Lisboa especial: “Não faz mal ter mais idade / Enquanto houver coração”.