Feita de Carne e Osso
Júlio Nobre
Feita de carne e osso
Feito um rosto que espreita
Feito um olho que é louco
Deita um pouco insatisfeita
A pele seu contorno
Feito um forno que se queima
Vestido um tanto solto
Feita do que era feita
Tudo lhe era estranho
Feito um banho de água benta
Sentia um imenso sono
Meio morno, meio besta
Feita de seu consolo
Meio tolo e sem jeito
Carregava um tijolo
Lado esquerdo do seu peito
Foi viver sem voz e não teve um fim
Fosso, dor sem Deus
Vestida de carne e osso
Seu esboço estava feito
O seu rosto era tão moço
E sua visão estreita
No seu pensamento insosso
Não sabia do que era feita
Feita de carne e osso
E com sua visão estreita
Foi viver sem voz e não teve um fim
Fosso, dor sem Deus
Foi viver sem voz e não teve um fim
Fosso, dor sem Deus
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