The Blacker The Berry

Contradições e orgulho negro em "The Blacker The Berry"

Em "The Blacker The Berry", Kendrick Lamar aborda de forma direta as contradições presentes na luta contra o racismo e dentro da própria comunidade negra. Logo no início, ele se autodenomina "the biggest hypocrite of 2015" (o maior hipócrita de 2015), destacando o conflito entre a indignação diante da violência policial e a violência interna entre negros. O verso “So why did I weep when Trayvon Martin was in the street? When gang banging make me kill a nigga blacker than me?” (“Então por que chorei quando Trayvon Martin estava na rua? Se a vida de gangue me faz matar um negro mais negro do que eu?”) evidencia esse dilema, questionando a legitimidade do próprio luto diante de Trayvon Martin ao reconhecer a perpetuação da violência dentro da comunidade. Esse trecho gerou debates intensos, pois obriga o ouvinte a refletir sobre hipocrisia individual e coletiva diante do racismo sistêmico e da autodestruição.

O título faz referência ao romance de Wallace Thurman e ao ditado “The blacker the berry, the sweeter the juice” (“Quanto mais escura a fruta, mais doce o suco”), que Lamar ressignifica para afirmar o orgulho negro, mas também ironiza a marginalização dos corpos negros. Versos como “You hate me don't you? You hate my people, your plan is to terminate my culture” (“Você me odeia, não odeia? Você odeia meu povo, seu plano é exterminar minha cultura”) denunciam o racismo estrutural e a tentativa histórica de apagar a cultura afro-americana. Ao mesmo tempo, Lamar critica conflitos internos, usando metáforas como a rivalidade entre Zulu e Xhosa para ilustrar divisões dentro da comunidade negra, comparando-as às guerras de gangues em Compton. A produção intensa e a performance marcante de Lamar, especialmente no Grammy de 2016, reforçam o peso das imagens de opressão e resistência, tornando "The Blacker The Berry" uma reflexão poderosa sobre identidade, orgulho e contradições.