Homesick

“Homesick” e o pertencimento perdido no cotidiano sereno

Em “Homesick”, a saudade não é de um endereço, mas da sensação de pertencer que se perdeu. O verso “two soft voices blended in perfection” (duas vozes suaves combinadas com perfeição) funciona como comentário interno: ele se abriga no som de duas vozes — marca da estética suave do Kings Of Convenience, influenciada por Simon & Garfunkel e pela bossa nova — enquanto a vida prática fica de lado, como em “I lose some sales / And my boss won't be happy” (perco algumas vendas / e meu chefe não vai ficar feliz). Vinda do álbum Riot on an Empty Street (2004), a canção encena uma introspecção serena: a música vira refúgio porque o personagem já não reconhece seu lugar. O “boy in the mirror” (garoto no espelho) o confronta diariamente, e “I travelled far and i burned all the bridges” (viajei para longe e queimei todas as pontes) sugere que ele rompeu laços ao apostar em um plano que agora se desfaz — daí o refrão “Homesick / Cause i no longer know / Where home is” (com saudade de casa / porque já não sei / onde é o meu lar).

Há também uma camada metamusical. Em “searching boxes underneath the counter / on a chance that on a tape i'd find / a song for / someone who needs somewhere / to long for” (procurando caixas debaixo do balcão / na esperança de que em uma fita eu encontrasse / uma canção para / alguém que precisa de um lugar / pelo qual sentir saudade), ele pode ser um balconista distraído buscando uma fita para um cliente — ou alguém tentando achar, para si, uma canção que nomeie esse desejo de pertencer. A música vira substituto de lar: um lugar sonoro onde depositar a saudade quando o “home” real não está claro. Esses gestos cotidianos — perder vendas para ouvir um disco, encontrar companhia em duas vozes — condensam o tema central do duo: a busca calma por um ponto de ancoragem quando identidade e opções “wither in the light of my plan” (murcham à luz do meu plano).