Flow Sem Partido

Crítica social e resistência em "Flow Sem Partido" de Kivitz

"Flow Sem Partido", de Kivitz, utiliza ironia e crítica direta para expor contradições do discurso conservador e da sociedade brasileira. Logo no início, a música contrapõe o patriotismo superficial à falta de conhecimento cultural, como nos versos “patriotas que não leram Guimarães Rosa” e que preferem “Miami e minas de buceta rosa”. Kivitz denuncia a hipocrisia de quem defende uma liberdade seletiva, beneficiando apenas um lado, como sintetizado em “Pode transar, mas na transação é só um lado que goza”.

A letra resgata a tradição indígena brasileira, lembrando que a verdadeira raiz do país está nos povos originários e questionando o processo colonial com “roubar é o mesmo que descobrir”. Kivitz também critica o uso da religião para legitimar opressões, conectando líderes religiosos e políticos em “Na linha fina entre igreja e estado: Desce daí / De Vaticano e João, a Valadão e Jair”. Ele evidencia como a fé é usada para manter privilégios e justificar injustiças, inclusive a violência policial contra a população negra: “carta branca, pra polícia quase preta / Matar gente quase sempre preta”.

A música segue desmascarando a meritocracia (“Meritocracia, meu ovo / É o meu povo que é mestre na ginga”) e a hipocrisia midiática, valorizando o saber popular e a resistência das periferias. Ao final, propõe esperança coletiva, desejando que o amor renasça e que as dores sejam compartilhadas. O título reforça a recusa de Kivitz em se alinhar a partidos, preferindo uma crítica autônoma às estruturas de poder.