Talismã / Outra Vez (part. Paula Fernandes)

“Talismã / Outra Vez (part. Paula Fernandes)” ao vivo

A costura entre “Talismã” e “Outra Vez” transforma a saudade em impulso: primeiro, sustenta o dia como amuleto; depois, vira aprendizado feito de paradoxos. Na união de Lauana Prado com Paula Fernandes em “Talismã / Outra Vez (part. Paula Fernandes)”, os clássicos ganham leitura feminina que abraça contradições do amor sem perder a raiz do sertanejo e da MPB, em sintonia com o projeto Raiz Belo Horizonte, gravado ao vivo no Mineirão diante de 12 mil pessoas. Em “Talismã”, a persona sofre com a distância, mas se agarra a uma rotina afetiva que resiste na memória: “Só você que me ilumina, meu pequeno talismã”. O “talismã” funciona como proteção contra o vazio, enquanto o refrão “Vai, saudade” canaliza a ausência em pedido insistente de presença — um gesto que dialoga com o marco de Leandro & Leonardo (1990), agora atualizado pelo timbre de duas vozes femininas.

Em “Outra Vez”, a lembrança assume os opostos sem pudor: “Você foi o melhor dos meus erros/ A mais estranha história que alguém já escreveu” e “Você foi a mentira sincera/ Brincadeira mais séria que me aconteceu”. “Mentira sincera” pode ser o autoengano admitido — um arranjo para caber no amor — ou a ideia de que algo imperfeito foi, ainda assim, verdadeiro no sentir; “melhor erro” é o engano que marca e ensina. A saudade é aceita como companhia boa em “Das lembranças que eu trago na vida/ você é a saudade que eu gosto de ter”. O dueto — vindo de artistas que já exaltaram amor-próprio em “Prioridades” — reposiciona a dependência com autonomia: lembrar não é recaída, é cuidado com o que foi real. Ao vivo, o coro em “Vai, saudade” vira catarse coletiva e reforça o tom de homenagem que atravessa o álbum, celebrando canções que marcaram gerações sob sensibilidade contemporânea.