Don Blanco

Tradição e resistência cultural em “Don Blanco” de Lisandro Amaral

Em “Don Blanco”, Lisandro Amaral aborda o impacto do progresso sobre a cultura gaúcha, mostrando como práticas e símbolos tradicionais foram deixados para trás. O verso “O grito de 'venha boi' perdeu-se na poeira dos tempos...” expressa claramente a sensação de perda das antigas rotinas do campo. Imagens como “os fletes já não pisam a baba dos tambeiros” e “lombilhos gastos, hoje encilham cavaletes em quartos pobres de vilas” reforçam a ideia de que objetos e costumes essenciais à vida rural agora pertencem ao passado ou foram relegados a ambientes urbanos empobrecidos, consequência direta do chamado “bendito progresso”.

Lisandro Amaral, reconhecido por valorizar a cultura nativista, utiliza referências como “garrão de potro sovado de nazarena”, “pala gasto”, “garrucha antiga” e “rastra argentina” para evocar não apenas objetos, mas também a identidade e o orgulho do homem do campo. A citação ao “Martín Fierro” — personagem central da literatura gauchesca — e ao “banhado do Minuano” conecta a letra à tradição literária e geográfica do pampa. A frase “No hay fronteras para ser fiel hermano” (Não há fronteiras para ser um irmão fiel) destaca a irmandade entre os povos da região, superando limites territoriais. Apesar do tom nostálgico, a música também celebra a resistência cultural, como em “Tu gineteia, eu fecho um verso campo a fora / Enquanto a espora dá o compasso pra guitarra”, mostrando que a tradição se mantém viva através da música e do trabalho no campo, mesmo diante das mudanças do tempo.