Razões de ser

Identidade e saudade em "Razões de ser" de Lisandro Amaral

Logo no início de "Razões de ser", Lisandro Amaral usa a expressão "alma de poncho" para destacar a identidade do gaúcho, remetendo à proteção, resistência e ao sentimento de pertencimento ao universo campeiro. Essa metáfora mostra que o personagem da música não apenas vive no campo, mas incorpora a essência do tropeiro, alguém que enfrenta as dificuldades da vida com coragem e resignação. O verso "bocal sovado no queixo de um mouro-pampa" reforça essa conexão com a lida campeira, trazendo à tona o cavalo Crioulo e os instrumentos de trabalho, elementos centrais da cultura do Rio Grande do Sul, como é comum na obra de Lisandro Amaral.

A letra aborda uma busca existencial marcada pela saudade e pelo sentimento de deslocamento, evidentes em versos como "rondou ausências de ti" e "sabendo que o fim da estrada é longe daqui". O tropeiro, símbolo do homem do campo, é retratado como alguém que percorre caminhos incertos, guiado por sonhos, lembranças e pela necessidade de encontrar sentido em sua jornada. As perguntas "Será a saudade o terço dos deserdados?" e "Terá, no altar do campo, uma cruz cravada quem nunca apeiou na estrada e pediu por Deus?" trazem reflexões sobre fé, solidão e pertencimento, temas presentes na poesia nativista e influenciados por autores como Jayme Caetano Braun e Noel Guarany, referências diretas do artista. Ao final, a busca por "razões de ser e estar aqui" resume o tom nostálgico e reflexivo da canção, mostrando que, para o tropeiro, o sentido da vida está na própria travessia e na ligação com a terra e suas tradições.