Djam passa txeu

Deslocamento e superação em "Djam passa txeu" de Loreta Kba

Em "Djam passa txeu", Loreta Kba aborda o sentimento de deslocamento vivido por muitos imigrantes cabo-verdianos em Portugal. A repetição da frase “És terra li é ka di nós” (“Esta terra aqui não é nossa”) reforça a sensação de não pertencimento, mostrando como questões culturais, raciais e sociais dificultam a integração plena dessas pessoas. Esse sentimento coletivo se conecta à experiência pessoal da artista, que fala sobre ausência paterna, paternidade precoce e os desafios enfrentados por crianças em instituições.

A música tem um tom de desabafo e superação, como fica claro no verso “Djam passa txeu na vida mas é ka keli ki tá pom ser um fraco, desistente” (“Já passei por muita coisa na vida, mas isso não me faz ser fraco ou desistente”). Loreta Kba reconhece as dificuldades, mas destaca a importância de resistir. O trecho “Fidjo tomado pá Segurança Social / Crianças ki criado dentu instituison” (“Filho levado pela Segurança Social / Crianças criadas dentro de instituição”) evidencia a dor de crescer sem referências familiares sólidas, consequência de problemas sociais e econômicos. Apesar disso, a artista valoriza a esperança e a resiliência, como em “Felicidade di tem fidjo é podi cumpra 1 berço / Bu ka tive pai, mas Deus dou chance di ter fidjos” (“A felicidade de ter um filho é poder comprar um berço / Você não teve pai, mas Deus te deu a chance de ter filhos”). Assim, a canção celebra a força de quem supera adversidades e constrói um futuro melhor, mesmo diante das dificuldades do contexto migratório.