Numa Cidade Muito Longe Daqui

Ambiguidade moral e crítica social em “Numa Cidade Muito Longe Daqui”

"Numa Cidade Muito Longe Daqui", de Marcelo D2, aborda de forma direta a dificuldade de identificar quem são os verdadeiros heróis e vilões nas comunidades marginalizadas. A música mostra que tanto policiais quanto criminosos podem agir de maneiras contraditórias, dependendo das circunstâncias. O trecho “Porque tem homem mal que vira homem bom / Quando ele compra o remédio / Quando ele banca o feijão / Quando ele tira pra dar / Quando ele dá proteção” destaca como pessoas consideradas criminosas muitas vezes assumem o papel de provedores e protetores, tornando a linha entre certo e errado ainda mais confusa. Por outro lado, a letra denuncia a corrupção policial, como em “Porque tem homem da lei que vira homem mal / Quando ele vem pra atirar / Quando ele caga no pau / Quando ele vem pra salvar / E sai matando geral”, mostrando que a violência e a corrupção não são exclusivas de um lado só.

A música também critica a cultura de desconfiança e traição nas comunidades, usando a expressão “X-9” para se referir a delatores, e aponta a corrupção como o verdadeiro problema central. O confronto entre bandido e subtenente ilustra como ambos os lados estão envolvidos em práticas ilícitas, como quando o bandido acusa o policial de roubar seu dinheiro, revelando a promiscuidade entre crime e autoridade. A repetição do verso “Numa cidade muito longe daqui” funciona como ironia, sugerindo que, apesar de falar de um lugar distante, os problemas retratados são os mesmos das favelas brasileiras. No final, a música questiona a responsabilidade social e política, criticando o judiciário e o legislativo corruptos e a alienação do povo, e conclui com a sensação de que todos estão presos em uma realidade injusta e infeliz.