Balada de Gisberta

Violência e exclusão em "Balada de Gisberta" de Maria Bethânia

"Balada de Gisberta", interpretada por Maria Bethânia, retrata de forma direta e sensível a história real de Gisberta Salce Júnior, mulher trans brasileira assassinada em Portugal. A canção expõe a exclusão e a violência enfrentadas por Gisberta, especialmente no verso “Perdi-me do nome / Hoje podes chamar-me de tua”, que evidencia a perda de identidade e pertencimento. Esse trecho mostra como ela foi privada não só de sua dignidade, mas também de sua própria história, algo reforçado pelo contexto de sua busca por liberdade e pelo fim trágico que sofreu.

A letra alterna entre lembranças de momentos de glória e a dura realidade da marginalização, como em “Dancei em palácios / Hoje, danço na rua”, simbolizando a queda social e emocional de Gisberta. Imagens como “Vesti-me de sonhos / Hoje, visto as bermas da estrada” e “No escuro, fui porta-estandarte / Apagaram-se as luzes” reforçam a sensação de abandono e invisibilidade. O refrão, com versos como “Eu não sei se um anjo me chama / Eu não sei dos mil homens na cama, e o céu não pode esperar”, aborda a solidão, a busca por redenção e faz referência à vulnerabilidade de pessoas trans em situação de exclusão social, incluindo o trabalho sexual. O final, com a repetição de “O amor é tão longe”, destaca a distância entre Gisberta e qualquer forma de acolhimento, transformando a canção em um lamento sobre a falta de empatia e respeito. Assim, "Balada de Gisberta" vai além da homenagem individual e se torna um manifesto contra a transfobia, denunciando a brutalidade e a indiferença social, ao mesmo tempo em que preserva a memória de Gisberta.