LEI

Desencanto e realismo nas relações em "LEI" de Marracash

Em "LEI", Marracash expressa um olhar cético sobre a ideia da alma gêmea e a busca por uma conexão perfeita. O verso repetido “non credo che esista” (não acredito que exista) funciona como um mantra, questionando a expectativa social de encontrar alguém que corresponda exatamente ao ideal romântico. Essa descrença se conecta ao tema central do álbum "È finita la pace", que propõe a desconstrução de mitos românticos e a aceitação das imperfeições nas relações.

A mulher retratada na música é apresentada de forma autêntica e independente, distante de padrões impostos: “Lei è nature, no rifatta, morbidissime labbra ambra” (Ela é natural, não fez plásticas, lábios de âmbar muito macios) e “Sceglie come esser bella, se ne fotte di kylie e kendall” (Ela escolhe como ser bonita, não liga para Kylie e Kendall). Marracash valoriza o mistério e a individualidade dela, sugerindo que o desconhecido é mais atraente do que qualquer padrão. A relação é marcada por liberdade mútua – “Non è mia, non sono suo / Ma quando siamo assieme, siamo solo noi” (Ela não é minha, eu não sou dela / Mas quando estamos juntos, somos só nós) – e pela consciência de que prazer e dor coexistem: “Emorragia, lacrime fluo / Cercare di alleviare il male come puoi” (Hemorragia, lágrimas fluorescentes / Tentar aliviar a dor como pode). O encerramento da trilogia de músicas sobre relacionamentos reforça a ideia de que o amor é intenso, transitório e difícil de definir, como uma “costellazione che svanisce all'alba” (constelação que desaparece ao amanhecer).

O videoclipe, ambientado em uma câmara anecoica, simboliza o isolamento e reforça a sensação de que, apesar da intensidade vivida a dois, tudo se dissipa com o tempo. Marracash propõe uma reflexão madura sobre a dificuldade de conciliar desejo, fantasia e as limitações do real, mantendo honestidade e clareza sobre o que se pode – ou não – esperar do amor.