Cidade 2000

Desigualdade e resistência em “Cidade 2000” de Matuê

Em “Cidade 2000”, Matuê retrata de forma direta a desigualdade social e o racismo estrutural presentes no cotidiano de Fortaleza, especialmente para jovens das periferias. Um dos pontos centrais da música é a crítica à seletividade das leis e à hipocrisia social. Ao dizer “Playboy passou com um baseado na mão / Se fosse preto e pobre era pra detenção”, o artista evidencia como pessoas de diferentes classes e raças recebem tratamentos distintos diante das mesmas situações, reforçando a denúncia de discriminação racial e social. A menção a bairros reais, como em “correndo do Titan até o Jardim América”, aproxima a letra da realidade dos ouvintes e fortalece o sentimento de pertencimento e resistência coletiva.

A música também aborda a indignação com a corrupção política e o descaso do Estado. No trecho “Esquema de milhões fachada é um lava-jato / E o nosso dinheiro cai na mão de mais um porco nato”, Matuê faz referência à Operação Lava Jato, conectando o contexto nacional de corrupção à realidade local e mostrando como o desvio de recursos públicos afeta diretamente a população. O refrão “vivendo na cidade, arde / Ao meio-dia no Sol sem sombra, sem dó” transmite a dureza da vida urbana, marcada pelo calor intenso e pela pressão social constante. As perguntas repetidas, como “Será que amanhã eu vejo o Sol raiar?” e “Será que isto que resta a nós?”, expressam a incerteza e o desespero, mas também a resistência de quem, mesmo diante das dificuldades, continua lutando para ser ouvido e sobreviver.