É Sal

Realidade e tensão urbana em “É Sal” de Matuê

A música “É Sal”, de Matuê, utiliza o título e o refrão para transmitir um duplo sentido importante. “É Sal” é uma gíria cearense que indica situações difíceis ou perigosas, e, ao mesmo tempo, faz referência à vida dura e imprevisível nas periferias de Fortaleza, especialmente em bairros como o Pirambu. Matuê reforça esse cenário ao usar gírias locais e referências explícitas à criminalidade e ao consumo de drogas, como em “Tá nevando em Fortal” (alusão à cocaína), criando uma ambientação urbana marcada pela tensão constante e pela necessidade de vigilância, como mostra o verso “Mas vai pela sombra / Quem tá andando com Deus, nunca se assombra”.

A letra mistura ostentação e alerta, refletindo tanto a busca por respeito e sobrevivência quanto a glamourização da violência, característica do trap. Expressões como “Quadrada na beca de veludo” (arma escondida em roupa elegante) e “Disposição pra tombar duas viatura” (prontidão para enfrentar a polícia) evidenciam o perigo constante e a necessidade de estar sempre atento. Matuê também ressalta que, mesmo em cenários bonitos como a praia, a vida pode ser difícil: “Morando na praia / E mesmo assim a vida é dura”. O refrão repetido, “Vai botando a fé no submundo / Tal hora tu vai acabar tomando um susto”, funciona como um aviso direto sobre os riscos de confiar no mundo do crime, reforçando que qualquer descuido pode ser fatal nesse ambiente.