A Lenda

Resistência e orgulho em "A Lenda" de Linn da Quebrada

Em "A Lenda", Linn da Quebrada aborda o conflito entre o desejo de aceitação e o preconceito enfrentado por pessoas LGBTQ+ em ambientes hostis. A repetição do refrão “Eu tô bonita? (Tá engraçada)” expõe como a busca por validação social muitas vezes é recebida com deboche ou rejeição, especialmente quando se foge dos padrões tradicionais de beleza e comportamento. O tom direto da letra, com frases como “deu a cara pra bater” e “tem que ralar o cu, se foder”, reforça que conquistar liberdade e felicidade exige coragem para enfrentar adversidades impostas pela família, escola e sociedade.

A música narra a trajetória de uma personagem marginalizada, chamada de “bicha esquisita”, que desafia expectativas familiares e sociais em busca de uma vida autêntica. Linn da Quebrada se inspira em experiências reais de exclusão e resistência, principalmente de pessoas trans e periféricas. Isso aparece em versos como “Abandonada pelo pai, por sua tia foi criada / Enquanto a mãe era empregada, alagoana arretada”, que mostram tanto a vulnerabilidade social quanto a força herdada de figuras maternas batalhadoras. A menção à expulsão da igreja e à metáfora da “maçã podre” denuncia o estigma religioso e a tentativa de silenciar identidades dissidentes.

No final, a música subverte o deboche inicial e afirma o orgulho: “Tô muito mais que bonita, admite / Tô maravilhosa”. Essa virada transforma a rejeição em empoderamento, mostrando que, apesar do preconceito, a personagem — e, por extensão, Linn e tantas outras pessoas — reivindica sua beleza, valor e autonomia. "A Lenda" se consolida como um hino de resistência e autoafirmação, celebrando a força de quem desafia as normas para existir plenamente.