amor amor

Resistência e ancestralidade em "amor amor" de Linn da Quebrada

Em "amor amor", Linn da Quebrada faz uma ponte entre ancestralidade, resistência e identidade ao citar Xica Manicongo logo no início da música. Xica, reconhecida como a primeira pessoa trans registrada no Brasil colonial, representa a luta histórica contra normas de gênero impostas. Ao trazer essa figura à tona, Linn propõe que a "contradição" e a "feitiçaria" sejam vistas como forças de transformação, especialmente para quem desafia padrões sociais. A menção a Exu, divindade do candomblé associada à comunicação e aos caminhos, reforça a ideia de abertura de possibilidades e proteção espiritual. Isso aparece no verso “Foi o que eu senti quando Exu me abençoou”, sugerindo que o amor verdadeiro é um dom sagrado, sentido quando se está conectado às próprias raízes e à espiritualidade afro-brasileira.

A repetição de “ela é Maria” traz múltiplos sentidos: remete tanto à Maria Madalena, símbolo de marginalização e redenção, quanto à mulher periférica e trans, que enfrenta preconceitos e busca dignidade. O verso “salve teu corpo do banzo” faz referência à dor histórica do povo negro, conectando o sofrimento dos escravizados à necessidade de autocuidado e resistência. Imagens como “sua língua é uma faca” e “transiciono no negrume” misturam vulnerabilidade e força, mostrando que a palavra pode ferir, mas também transformar, e que a transição de gênero se entrelaça ao orgulho da negritude. Por fim, versos como “não confie em qualquer um, pois qualquer um é falador” e “eu amei, não fui amada, hoje eu sei o meu valor” reforçam a importância da autovalorização e da cautela diante de julgamentos externos. Assim, "amor amor" se apresenta como um manifesto de afirmação identitária, espiritualidade e resistência, celebrando o amor próprio e coletivo.