Drácula

Identidade marginal e poder em "Drácula" de Xamã

Em "Drácula", Xamã utiliza a figura do vampiro para expressar sua identificação com personagens marginalizados e incompreendidos. Logo no início, ao se autodenominar "conde Drácula", ele se coloca como alguém à margem da sociedade, mas que carrega poder e mistério. Essa ideia se amplia com referências a personagens como Coringa, Batman, Frankenstein e Van Helsing, todos símbolos de dualidade, conflito interno e exclusão social. Ao mencionar o "Brizolão de faca", Xamã faz uma conexão direta com a realidade das periferias do Rio de Janeiro, mostrando como a escola pública pode ser tanto um abrigo quanto um ambiente de luta e sobrevivência.

A letra é marcada por jogos de palavras e referências à cultura pop, experiências pessoais e críticas sociais. Quando Xamã diz que se transforma em "réptil com minha rima robótica", ele sugere uma adaptação fria e automática diante das dificuldades, quase como uma defesa para sobreviver. O verso "O diabo mora na cabeça na hora do tempo vago" fala sobre os conflitos internos e tentações que surgem na ociosidade, enquanto "o retorno do cisne negro para o seu negro lado" reforça a aceitação da própria escuridão como parte da identidade. As menções à "Z.O" (Zona Oeste) e à saudade da infância mostram orgulho das origens e nostalgia, mesmo diante das dificuldades.

No refrão e nos versos finais, Xamã mistura desejo, fuga e busca por aceitação. O convite para "Júpiter" ou "Transilvânia" representa a vontade de escapar da realidade e desafiar padrões. Ao afirmar "eu sou de carne e osso, mas não sou humano", ele reforça a sensação de alienação e resistência, assumindo uma identidade híbrida que reflete a complexidade de quem vive à margem, mas não se entrega totalmente à desumanização.