Recordé

Resistência e memória ancestral em “Recordé” de Milo j

Em “Recordé”, Milo j constrói uma ponte entre sua busca pessoal por liberdade e a resistência histórica representada por Malunguinho. Logo no início, ao citar “Sou rei (é o rei da mata)” e mencionar a encruzilhada e o chapéu furadinho, o artista faz referência direta à figura de Malunguinho, líder espiritual dos quilombos e símbolo de luta contra a opressão. Essas imagens mostram que a jornada de autodescoberta de Milo j está profundamente ligada a raízes culturais e espirituais de superação e resistência.

A letra mergulha em reflexões sobre memórias, dor e amadurecimento. Em versos como “Hoy recordé la melodía que sonaba cuando sonreía / Pero no puedo volver a sacar la sal de mis heridas” (Hoje lembrei da melodia que tocava quando eu sorria / Mas não consigo mais tirar o sal das minhas feridas), Milo j expressa a dificuldade de reviver momentos felizes sem reabrir antigas dores. O medo da efemeridade aparece em “Tengo miedo de la oscuridad / Porque soy otra piedra en la arena / Que algún día desaparecerá” (Tenho medo da escuridão / Porque sou mais uma pedra na areia / Que um dia vai desaparecer), revelando angústia existencial. O artista também questiona sua própria bondade e identidade: “No soy buena persona / ¿Cómo esperan que sepamos qué somos ahora?” (Não sou uma boa pessoa / Como esperam que saibamos o que somos agora?).

A música mistura elementos do folclore argentino com gêneros urbanos, ampliando seu significado e transformando a experiência individual em um diálogo com tradições de resistência e esperança. “Recordé” se destaca como um retrato honesto do amadurecimento, onde a busca por sentido se une à valorização das raízes e da memória.