Canto ao xiru que partiu cedo
Milton Sica
Debaixo da campa esquecida
O xiru pobre descansa
Triste por não ter cumprido
O que havia sonhado em criança
Levou pro seio da terra
A sede de um tempo melhor
Mil planos, labores, esperas
Forjados em sangue e suor
Foi cedo o xiru muito cedo
Sem tempo pra os frutos colher
Da aurora da vida o anseio
É o remo que empurra o viver
Quem dera se o tempo te desse
Mais tempo pra o tempo remar
Traiu-te esse tempo matreiro
Podando o teu tempo de amar
Esta fé que anima os viventes
Esta dor que lancina no peito
Esta vida que assola os descrentes
Que acalenta minando os conceitos
Noutras plagas, talvez ter refaças
Noutros rios remarás com certeza
Sem fronteiras e apartes de raças
Só remansos e sem correntezas
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