Introitus

A despedida e transcendência em “Introitus” de Mozart

O "Introitus" do "Requiem" de Wolfgang Amadeus Mozart carrega um significado especial, pois foi o único movimento totalmente concluído pelo compositor antes de sua morte. Essa circunstância confere à peça um tom de despedida pessoal, como se Mozart estivesse consciente de sua própria mortalidade ao escrever. O texto latino, retirado da liturgia católica, pede descanso eterno e luz perpétua para os mortos: “Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis” (Conceda-lhes o descanso eterno, Senhor, e que a luz perpétua brilhe para eles). Essa súplica, combinada com a instrumentação solene e o uso do coro em imitação, cria uma atmosfera de esperança e serenidade diante da morte, reforçando a ideia de transcendência e consolo espiritual.

O verso “Te decet hymnus, Deus, in Sion, et tibi reddetur votum in Jerusalem” faz referência ao Salmo 64 (65), tradicionalmente ligado à adoração e à promessa de fidelidade a Deus. Esse trecho é cantado pela soprano solista no tonus peregrinus, uma melodia litúrgica tradicional, o que reforça o vínculo com a tradição religiosa. Mozart também se inspirou em obras anteriores, como o "Requiem" de Michael Haydn e o oratório de Handel, o que se reflete na estrutura contrapontística e nos temas escolhidos. A relevância do "Introitus" permanece atual, como mostra sua recente reinterpretação em Madri, onde foi apresentado como uma "investigação poética urbana". Assim, a peça continua a provocar reflexões sobre finitude, memória e o desejo de paz para os que partiram, dialogando com diferentes contextos históricos e culturais.