Tango do Covil

Ironia social e sonhos em "Tango do Covil" do MPB-4

Em "Tango do Covil", do MPB-4, a ironia aparece logo no contraste entre os sonhos grandiosos dos personagens e a realidade simples do "covil" onde vivem. A letra faz graça com a ideia de ascensão social, mostrando desejos exagerados de ser cantor, doutor, garçom francês ou até mesmo Gardel. Tudo é apresentado de forma leve e espirituosa, como em “Ter um diploma, anel / Fazer em teu louvor / Discursos a granel”, reforçando o tom de sátira.

A música faz parte da peça "Ópera do Malandro", inspirada em obras que criticam as estruturas sociais e a marginalidade. Os capangas de Max, figuras do submundo, sonham com profissões que representam respeito e glamour, mas tudo é dito de forma quase caricata. Profissões idealizadas, como “doutor formado em Salvador” ou “garçom francês”, evidenciam o abismo entre o cotidiano dos personagens e seus sonhos, ironizando a busca por reconhecimento em uma sociedade desigual. A referência a “falar de champinhom / falar de molho inglês” brinca com o desejo de sofisticação, enquanto o convite repetido “Bem-vinda” à mulher admirada reforça o tom de galanteio exagerado. O humor cresce nos elogios, como “a mais gostosa aqui deste covil” e “a dama mais (boazuda)”, misturando romantismo e malandragem, marcas do universo de Chico Buarque. Assim, a música usa o ritmo do tango e imagens criativas para transformar admiração e desejo em uma crítica social bem-humorada.