A Epopéia de Zumbi

Resistência e ancestralidade em "A Epopéia de Zumbi"

"A Epopéia de Zumbi", de Nei Lopes, retrata o Quilombo dos Palmares como um símbolo de resistência, liberdade e construção coletiva. A música vai além da luta armada, destacando o cotidiano dos quilombolas e a riqueza cultural herdada da ancestralidade africana. O verso “forjando ferro de Ogum, plantando cana e amendoim, dançando seus batucajés” conecta as atividades diárias à figura de Ogum, orixá ligado à guerra e ao trabalho com ferro, reforçando a força espiritual e a proteção presentes na vida dos quilombolas. Nei Lopes, conhecido por valorizar a cultura negra, utiliza essas imagens para mostrar Palmares como um espaço de criação, convivência e resistência ativa, e não apenas um refúgio contra a escravidão.

A letra também destaca Zumbi como símbolo máximo da luta pela liberdade, especialmente ao afirmar: “nenhum negro ia ser rei, enquanto houvesse uma senzala”. Essa frase mostra a recusa de Zumbi em aceitar qualquer liberdade parcial, defendendo a emancipação total dos negros. A referência à traição e morte de Zumbi em 20 de novembro, data que marca o Dia da Consciência Negra, transforma o episódio em um convite à reflexão e à continuidade da luta contra a opressão. O refrão “Folga negro de Angola que ele não vem cá / Se ele vier Quilombola, pau há de levar” faz referência a cantigas tradicionais, expressando tanto o alerta diante da repressão quanto a persistência da resistência negra. Assim, a música transmite orgulho, dor e esperança, reafirmando a importância de manter viva a memória de Palmares e de Zumbi.