Folhas Secas

Memória e saudade no samba “Folhas Secas” de Nelson Cavaquinho

Em “Folhas Secas”, Nelson Cavaquinho utiliza a imagem das “folhas secas caídas de uma mangueira” para expressar a passagem do tempo, a nostalgia e a saudade de um passado marcante. Esse verso faz referência direta à Mangueira, tradicional escola de samba do Rio de Janeiro, e à “minha estação primeira”, evocando tanto a Primeira Estação da Mangueira quanto o início da trajetória do próprio compositor. A abertura da música é reconhecida como uma das mais belas da música brasileira por sintetizar, em poucas palavras, a efemeridade da vida e a força das memórias afetivas ligadas ao samba e à boemia carioca.

A repetição de “não sei quantas vezes subi o morro cantando, sempre o Sol me queimando, e assim vou me acabando” revela o desgaste físico e emocional de uma vida dedicada ao samba, marcada por dificuldades, mas também por paixão e entrega. O “morro” representa o ambiente das escolas de samba e da vida popular do Rio, enquanto o “Sol me queimando” sugere tanto sofrimento quanto vitalidade. No trecho “quando o tempo avisar que eu não posso mais cantar, sei que vou sentir saudade ao lado do meu violão e da minha mocidade”, o compositor expressa o medo do fim e a certeza de que a música e as lembranças da juventude o acompanharão até o último momento. Assim, a canção se apresenta como um lamento resignado sobre envelhecer, perder e manter viva a memória, temas centrais na obra de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito.