Red Right Hand

O poder misterioso e ameaçador em “Red Right Hand”

Em “Red Right Hand”, Nick Cave constrói uma figura central ambígua e onipresente, inspirada diretamente no poema “Paraíso Perdido” de John Milton. No poema, a expressão “red right hand” simboliza a mão vingativa de Deus. Cave, porém, amplia esse conceito e cria um personagem que pode ser visto tanto como uma força divina quanto como uma entidade maligna ou manipuladora. Isso aparece nos versos “He’s a God, he’s a man, he’s a ghost, he’s a guru” (“Ele é um Deus, ele é um homem, ele é um fantasma, ele é um guru”), mostrando que essa figura representa qualquer poder oculto e dominante, seja o governo, o diabo ou uma força social invisível.

A letra descreve um cenário sombrio e decadente, com imagens como “the edge of town” (“a periferia da cidade”), “the viaduct looms like a bird of doom” (“o viaduto se ergue como um pássaro do destino”) e “through the ghettos and the barrio and the Bowery and the slum” (“pelos guetos, pelo bairro, pela Bowery e pela favela”), reforçando a sensação de marginalidade e vulnerabilidade. O personagem de casaco preto oferece soluções fáceis para problemas materiais e existenciais — “You don’t have no money, he’ll get you some” (“Você não tem dinheiro, ele arruma para você”) —, mas sempre com uma ameaça implícita, simbolizada pela “red right hand”. Essa mão pode ser interpretada tanto como promessa de justiça quanto como aviso de punição ou corrupção. A referência à novela “The Stand”, de Stephen King, reforça a ideia de uma figura sombria e manipuladora. O clima de suspense e terror, presente também em trilhas como “Scream” e “Peaky Blinders”, faz de “Red Right Hand” um retrato atemporal do medo diante do poder desconhecido.